Confissão de uma mulher carente


INFÂNCIA

Minha infância foi de muitas​ dificuldade e ausência. Meu pai trabalhava viajando e minha mãe lavava roupas de outros para que pudéssemos jantar café com pão.

Lembro-me que nessa época fomos despejados porque não tínhamos como pagar o aluguel. Moramos quase um ano e meio com minha avó.

Nessa época meu pai estava em Goiás. Agora, com absoluta certeza, a maior tristeza da minha infância foi o abuso do álcool. Meu pai bebia todos os dias quando estava em casa.

Dentre as mudanças, teve o que eu chamo de o grande erro da infância pobre: ajudar minha mãe. Fui trabalhar. Obviamente eu me sentia adulta e fui ser babá. Daí foi só ladeira abaixo. Lembro-me das muitas dificuldades que passei.

Meu pai viajava enquanto eu perdia a minha infância e tinha meu corpo violado. Ele ficou doente da próstata e morreu de um infarto fulminante

Vou já te falar da minha adolescência. Quer saber porque odeio homens negros?

Olha essa foto. Esse homem negro é o pai da minha filha. Entendeu porque não suporto homem preto.

Eu nunca te confessei que a minha filha foi feito de uma violência que eu sofre desse negro nojento. Ele me bateu e em seguida me pegou à força. Já havíamos colocado um final no nosso relacionamento. Assim como o meu pai ele também bebia muito.

Não sei porque guardei todas essas fotos. Época infeliz da minha vida. Odeio homens preto. Odeio cacete preto. Tenho nojo.

Não fale nada. Apenas leia . Depois tire as tuas certeza de que realmente sou louca. (Risos)

Vou falar um pouco da minha adolescência.

ADOLESCÊNCIA

Minha adolescência foi muito conturbada. Minha mãe protegia a Meire e a Julia . Parecia que eu não era filha. Tornei-me andarilha de lares. Em cada lar um abuso e em cada abuso eu vi a distancia crescer entre mim, minha mãe e minhas irmãs. Eu contribuía com as despesas da casa e ela não cuidava de mim e nem me protegia. 

Conheci o Cristiano. Ele passou a me ajudar financeiramente. Eu vivi o céu e o inferno. Nessa época eu tinha 14 anos. Ele era muito violento. Dono de mim. Eu sofria a ausência da minha família e a mentira que era a minha vida. Minha mãe sempre repetia:" O seu pai não pode saber de nada". 

Quando engravidei sonhei com a minha filha. Ela tornou-se a razão pela qual passei a viver. Conheci o inferno, a dor e o abandono. Primeiro a violência do pai da minha filha, depois o desprezo da minha mãe. Cinco meses havia se passado e minha barriga ainda não era notada. Minha mãe me torturava. Ela falava que meu pai iria morrer e meus irmãos ficariam com ódio de mim. Veja bem . Eu já trabalhava e já era responsável pelas despesas da casa.

O meu pai, quando vivo, era vendedor. Galego. Vendia nas portas. Mesmo sofrendo com as torturas da minha mãe levei até onde pude a minha gravidez. Eu nunca te falei, mais foi o Cristiano que me levou para clínica. Foi ele que me levou pro inferno.

Acordei sem ele e sem minha filha. Voltei pra dentro de casa e passei a viver o desprezo de minha mãe.

Juntei o que sobrou de mim e fui à luta novamente. Passei então a viver com culpas, medos e traumas até o dia que soube que o Cristiano havia falecido num acidente de moto.

Mesmo eu trabalhando a minha mãe me desprezava. Passei então a comprá-la. Televisores, geladeiras. Compras nos supermercados. Ela coloca até hoje no carrinho o que ela quer.

Comprei a casa onde hoje moro com ajuda da chefe da empresa que eu trabalhava na época. Até hoje há uma muralha entre mim e minha mãe. A afinidade que há entre ela e as minhas irmãs é invejável. Não consigo abraçá-la nem no dia das mães. Nem no natal. Nem no dia do seu aniversário

Já fui esquecida por ela várias vezes. Eu sou o macho da casa.

Já bebi muito. Já dormi muitas vezes de porre para esquecer.

Até hoje sinto uma dor. Sabe aquela dor sintomatizada. Aquela que não se medicaliza?. Porque dói na alma.

Não sinto pena de mim. Entendo quando você fala dos meus erros.

Já cometi vários erros e muitos enganos.

A minha adolescência foi de trabalho e de encontros a meio de muitos desencontros.

Busquei a felicidade na noite, no carnaval, no sexo e nos homens. Eu queria amor, proteção. Eles queriam sexo.

Sai do Cristiano aos trapos. Quebrada. Um lixo humano sem vida .

UMA NOVA PAIXÃO

Você apareceu na minha vida como uma avalanche. Foi paixão. Um sentimento arrebatador como jamais senti por algum outro.

Você era a razão e eu a paixão. Você era a brisa e eu a tempestade. Eu há muito tempo estava à deriva e naquele momento você era o cais.

Confesso lutei contra tudo aquilo que eu sentia.

Você veio de encontro com as minhas fragilidades mas também de encontro com tudo que eu queria bem longe de mim: um homem casado e amante de uma colega de trabalho.

Olhava pra você e meu corpo já acendia a volúpia

Não demorou para as tempestades surgirem. Você dono de si, sabia envolver, mas também sabia fazer me sentir intrusa e sem direito. Até hoje trago comigo a noite em que fizemos sexo e no caminho você me falou que a sua família era prioridade assim como a amante. E continuou falando que eu era um terceiro plano. Ciúmes. Quase morri de ciúmes.

Quanto mais o tempo passava mais eu te amava. Tempestades em meio a dias ensolarados. Foi o que vivemos.
Você era diferente de todos os homens que eu já havia conhecido
No bar, na cama, não importava: você era diferente . Tornou-se o meu tudo. Eu vi o tempo passar ouvindo você me desclassificar enquanto pessoa e como ser humano.
É verdade eu ameacei você. Eu te ligava toda hora. Eu te buscava a todo instante.
O que estava por trás dos meus desequilíbrios não era uma mulher mal-caráter ,era um ser humano que via em você o que sempre quis nos relacionamentos: segurança, amizade, verdade e sinceridade.

Faltou tudo isso entre nós.

Eu aceitei ser o terceiro plano. Assim como por você eu seria o quarto, o décimo. Eu te amei tanto que esqueci de mim. Esqueci de ser mulher. Passei por cima do meu orgulho, do meu ego. Atropelei os meus sentimentos. Negligenciei​ a minha sexualidade desejando sexo contínuo com você.

Perdi um ano inteiro implorando sexo a você . Lembra? Está aqui. Está dentro das minhas muitas lembranças.
Meu Rei. Eu te coroei meu Rei.
Eu te amei de muitos maneiras e errei te amando. Errei comigo mesma e errei contigo.
O que começa errado no caminho se entorta de vez.
O medo de te perder levou-me a loucura. Liguei pra sua casa. Ameacei você e jamais nessa vida, em momento algum, pensei em tê-lo como refém.

Eu fui refém muitas vezes desse amor doente que senti por você. Refém do sexo prazeroso e da volúpia que era ir pra cama contigo. Refém das descobertas. Do sexo oral. De sentir prazer anal. Sexo jamais feito com outro homem.

HOJE

Não sei dizer o que estou sentindo. Estou me desnudando pra você.
Se o tempo voltasse atrás eu não me envolveria com você.
Já senti muitas vezes orgulho de você. Lembra quando te pedi um filho?
A sua resposta me encheu de orgulho. 
Eu jamais pedi um filho pra um homem.
Reconheço que liguei pra sua casa. Reconheço que te ameacei. Reconheço. Acredito que minhas atitudes possam ter abalado o seu casamento. Mas também reconheço que muito das minhas atitudes foram consequência do ciúmes, do amor doentio que senti por você. Não por ser uma pessoa mal-caráter.

Não quero agora me justificar, mas lamento que tenha demorado tanto pra me falar.

Hoje não tenho sonhos, não desejo mais ter filhos, como também não penso em casar. Acaba que todas as idas e vindas que dei na vida. Já não me atrai. 

Hoje sou uma pessoa de muitos colegas. Amigo só o meu trabalho. Marido, amante, namorado só o meu salário que paga as minhas contas. 

Hoje eu sou um barco que não precisa de um cais. Em qualquer lugar jogo a âncora. Talvez a maturidade ainda não tenha me deixado de sufocar você. O que vou levar do nosso relacionamento é maturidade pra não errar novamente. Os erros servem pra gente crescer, evoluir. Dos meus desequilíbrios vou procurar tratá-los . Somos adultos. Traumas não se apagam, se tratam.

Admiro você pelo que você é . Sempre terá o meu respeito e amizade. Gosto muito de você. Admiro pessoas inteligente

Não estou trabalhando hoje por causa da dengue. Estou de atestado. Só volto agora na terça feira. As minhas plaquetas estão baixas.

Não nego que amo você e que sempre gostei do sexo que fizemos
Na verdade conheci o sexo bom e prazeroso com você.
Embora não goste de negro por causa do pai da minha filha. Sempre tive a volúpia alta pelo cacete que você tem.

Eu sempre fiz sexo contigo por amar você e principalmente por gostar do seu cheiro. Seu cheiro me desperta os sentidos e muitas vezes me levou a gozar. Não tenho vergonha de você. 
Você foi o único homem que me fez sentir a vontade.
Preciso te falar que a minha única frustração é a de não ter um filho. Era a realização da minha vida.

Preciso te falar que um dia você usou da violência comigo. Não sei se foi porque quis. Acho que não. Um dia fomos ao motel e durante o sexo anal você me machucou muito. Cheguei a ter sangramento. E tive dificuldades pra sentar e outra coisas que agora não vem ao caso. Lembro de você ter me perguntado se eu estava bem. Na ocasião eu não falei nada porque fiquei com medo. Com o passar dos dias você manteve outro comportamento. Por isso acho que foi um ato inconsciente.

Estou com muita febre. Tenha um bom dia.

PS. Esta é uma estória fictícia. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência.

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